O Pensamento Lean e o seu Poder Transformador

Se no âmbito da gestão das organizações, nos identificarmos com as ideias simples, mas de grande relevância na atualidade, produzidas por  Albert Einstein que referia: “Os problemas com que nos deparamos hoje em dia, não podem ser resolvidos ao mesmo nível de pensamento que tínhamos, quando os criámos” e “ Se queremos resultados diferentes temos que pensar , sentir e agir de modo diferente”. Então nós, como gestores e como responsáveis por fazer acontecer,  temos que  nos envolver no desafio sistemático de desenvolver novo pensamento, através da identificação, aquisição e maturação de novo conhecimento. Até porque, como dizia também Albert Einstein, “ A mente que se abre a uma nova ideia ( pensamento), jamais regressa ao seu tamanho original

É neste contexto da necessidade de materializar novo conhecimento  nas organizações, que  proporcionem as condições para  as transformações necessárias ao nível das Lideranças , dos Processos, das Pessoas e da sua  Cultura , com vista a se operarem as mudanças  que perspetivem sustentabilidade e sucesso nos negócios , que surge  como modelo de referência  o Pensamento Lean  “ Lean tinking”

O conceito “ Lean” tem dezenas de anos e foi desenvolvido e aplicado nos sistemas industriais  pela Toyota ( Toyota Procuction System – TPS).  Embora com dezenas de anos de caminho percorrido, o conceito Lean   tem  vindo a transformar-se numa abordagem de filosofia de gestão das Organizações  que, quando bem desenvolvido,  produz  enormes impactos positivos de melhoria nas  capacidades, para gerar negócios competitivos  e  para  gerar resultados relevantes em termos económicos e de sustentabilidade.

Estamos perante um modelo com enorme conteúdo de novo conhecimento, ainda insuficientemente explorado pela maioria das organizações PME’s.

Os princípios da filosofia  “ Lean Thinking” descritos por (Womack e Jones – 1996  e João Pinto  2008)  que poderão servir de referência orientativa  e concetual para desenvolvimento de uma intervenção Lean nas Organizações, são:

  • Conhecer as Partes Interessadas
  • Criar valor sustentável
  • Definir cadeia de valor
  • Otimizar fluxos contínuos
  • Implementar sistema pull
  • Melhorar e inovar continuamente

A filosofia Lean promove  assim novas crenças, convicções , princípios  e metodologias ( novo conhecimento) que se transformam em novos pensamentos e sentimentos. Estes novos pensamentos materializam-se em novas formas de agir, que consolidam novas ações e novos hábitos, obtendo-se assim novas competências, capacidades e valores, ou seja, novos resultados

A gestão Lean (Gestão Magra) é um sistema em que os seus pilares - Liderança, Processos, Pessoas, Cultura - são interdependentes,  o que  significa que todas as suas funções     precisam de estar presentes,  para o sistema Lean Thinking  se consolidar com sucesso.

Devemos iniciar a jornada Lean pelas mudanças físicas, com o desenvolvimento de metodologias  e ferramentas do tipo 5’S,  SMED, TPM, Heijunka, kanbam , Kaizen e outras para instalar novos layouts, novos sistemas de produção em fluxo nivelados do tipo pull ( puxar), trabalho padronizado, ação de melhoria continua. Mas no entanto apenas uma parte (20 a 40%) do caminho estará percorrido. Têm de ocorrer também mudanças ao nível das práticas de  gestão, da liderança e da cultura

Os restantes 60 a 80% do caminho a percorrer (2ª fase), exigem novos elementos capacitários ,  para que o projeto Lean seja um sucesso a longo prazo. Podemos talvez dizer que a jornada Lean começa depois do “ Chão de fábrica ter sido organizado”

Elementos como  o Trabalho Padrão dos Líderes  como motores do sistema,  os Controles Visuais, como avaliadores do desempenho de cada processo,  a  Monitorização Diária de Resultados, como meio de identificar e reagir  rapidamente   a  desvios face ao planeado,  a Disciplina, como combustível que aciona o motor que faz com que o sistema de gestão Lean se consolide e se enraíze na cultura da organização, são alguns fatores decisivos para  progredir na implementação da 2*ª fase . Se descuidarmos  o  foco da disciplina,  o sistema de gestão Lean tende a entrar rapidamente em perda e a deteriorar-se juntamente com os resultados esperados.

Quando se inicia um processo Lean , uma variedade  de problemas , dificuldades e indisponibilidades surgem  repentinamente.  Se não se dispor de um (a):

  • Liderança forte e presente suportada no exemplo
  • Visão clara de médio e longo prazo sobre para onde se quer ir e o que se quer ser
  • Foco persistente nos processos atuando no “Gemba” ,
  • Orientação e foco para os Clientes na satisfação das suas necessidades, expetativas com agilidade e flexibilidade
  • Ação sistemática de promoção do princípio, “ Desenvolver Pessoas antes de Fazer Produtos
  • Organização inteligente que aprende e se transforma a todo momento,

 a probabilidade de insucesso  da jornada Lean é elevada.  A ausência deste posicionamento da liderança determina que mais de 80% dos projetos iniciados não têm o sucesso e os resultados planeados não são alcançados

Os princípios do Lean são muito fáceis de entender, mas de complexidade maior em termos de os consolidar nas práticas diárias da Organização.

A Gestão Lean fundamenta-se numa forte capacidade de disciplina, com práticas diárias centradas nos processos, metodologias e ferramentas  que se focam em criar  e definir a cadeia de valor, na  otimização de  fluxos e na  minimização de  recursos, com trabalho padronizado   e com uma dinâmica de melhoria  e inovação continua. A gestão e cultura Lean emerge à medida que os lideres substituem a mentalidade ( pensamento)  de modelos de gestão baseados em conceitos  tayloristas e transformam velhos hábitos em novos hábitos, não esquecendo que hábitos relacionados com o trabalho  são tão difíceis de mudar como os hábitos pessoais.

Assim, é preciso manter uma vigilância próxima dos novos comportamentos, para evitar que velhos hábitos se reinstalem em processos  recém convertidos para uma gestão Lean. Esta circunstância impele-nos para um sistemático reforço positivo do novo e um reforço negativo no velho.

Em síntese pensar Lean consiste:

  • Dispor de uma visão global do negócio
  • Foco persistente no processo atuando no “ GEMBA” para obter os resultados planeados
  • Foco no valor para Cliente e Partes interessadas – minimizar o que não acrescenta valor (desperdício)
  • Atividades padronizadas claramente documentadas
  • Gestão Visual
  • Atividade nivelada referenciada ao Take-Time
  • Fluxo puxado - (Pull System) para reduzir Lead Times e para se aproximar do fluxo de uma só peça
  • Qualidade na fonte. Autocontrolo – Poka-Yoke
  • Liderança com respeito
  • Desenvolvimento de Pessoas antes de Desenvolver Produtos
  • Desenvolvimento de Pessoas que sabem pensar e refletir, solucionadores de problemas
  • Consolidação de uma “ Learning  Organization” que promova o  Auto-desenvolvimento,  o Auto-conhecimento, a  Auto-disciplina,  a Auto-gestão  e o Auto-controle
  • Orientação para a gestão e decisão em Equipe, com foco nas Pessoas e no Detalhe
  • Monitorização sistemática dos resultados planeados
  • Monitorização da resolução dos problemas na origem onde ocorrem
  • Promoção de uma Cultura de Melhoria Continua – Kaizen

O desenvolvimento consistente e planeado, com visão de médio e longo prazo destes fundamentos do Lean, representam um elevado potencial de poder  transformador  das organizações, das suas lideranças e da sustentabilidades dos seus negócios.

Para melhor conduzir e liderar um processo de transformação Lean importa também conhecer os fundamentos e princípios  da monitorização de processos de Gestão da Mudança Lean

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